A PARTICIPAÇÃO DE ILHÉUS NA INDEPENDÊNCIA DA BAHIA
Igor Campos
A independência da Bahia foi um acontecimento histórico que findou o processo de independência do Brasil. A data remete ao dia da chegada do “exército libertador brasileiro” em Salvador e da expulsão definitiva das tropas portuguesas do território baiano, marcando a derrota política e militar da antiga metrópole que comandava essas terras.
A guerra de independência, que durou um ano e cinco meses, contou com a participação de diversas camadas sociais da população baiana, desde proprietários de terras, mulheres, indígenas, até escravizados, que viam no conflito uma possibilidade de conquistar sua liberdade. Não é à toa que um dos símbolos carregados em todo o trajeto do desfile que ocorre entre a Lapinha e o Campo Grande são os monumentos da cabocla e do caboclo. Esse acontecimento consolidou heróis, heroínas e seus mitos, como Joana Angélica, Maria Quitéria, Maria Felipa e o Corneteiro Luís Lopes – que segundo contam, deu o sinal de “cavalaria avançar” e “degolar” ao invés de “recuar”, amedrontando o exército português.
Na batalha de Pirajá
Quando o corneteiro tocou
O comandante mandou recuar
Mas o corneteiro trocou
Pode avançar, pode avançar
O corneteiro tocou
Pode avançar, pode avançar
O corneteiro tocou (BAIANA SYSTEM)
As lutas pela independência da Bahia também mobilizaram outras comarcas que pertenciam à Província da Bahia, como a então Comarca de Ilhéus, que deixara de ser Capitania em 1760. De acordo com Raymundo Brito, “o Ouvidor da Comarca de Ilhéus, Antônio da Silva Telles (...)” já em 1821, a partir do movimento constitucionalista que resistia às investidas conservadoras, congratulou-se com o Governo da Bahia pela “salvação da Pátria e regeneração política, dando, do mesmo passo, aos generosos libertadores as devidas graças pelo heroísmo com que sobre si tomaram a empresa de promover a pública felicidade” (CORREIO DE ILHÉUS, 1923. Grifo do autor).
De acordo com Francisco Borges de Barros, Ilhéus foi um importante ponto de abastecimento das tropas estacionadas em Cachoeira, contribuindo com gêneros alimentícios e com munições (Idem). Ao mesmo tempo, “Em par desse inestimável subsídio, improvisaram-se soldados, e diversos contingentes de voluntários foram mandados por terra para Maragogipe e Cachoeira.” (Idem)
Diz-se ainda que, não contentes com essas contribuições, os habitantes da Vila de Ilhéus logo se prontificaram para defender o seu território, guarnecendo os morros na foz do rio Cachoeira com dois pequenos fortins, em caso de ataques das tropas lusitanas. Um dos fortins ficava nos recifes do Unhão (atual Outeiro de São Sebastião), o outro nos recifes do Morro de Pernambuco. Há controvérsias históricas a respeito do período de construção dessas estruturas para a defesa da Vila e antiga Capitania de Ilhéus, que também passara por ataques dos franceses e dos holandeses em séculos anteriores. Contudo, o que se sabe é que ainda em 1923, quando da comemoração dos 100 anos da independência da Bahia na cidade, “as ruínas daqueles seculares ‘vigias da barra’ (...)” continuava “entre os recifes, batidos de contínuo pelos vergalhões do mar, uma verdadeira peça de artilharia” (Idem).
Em 1927, sob a administração municipal o intendente Mário Pessoa, foi construído um monumento em homenagem aos heróis do dois de julho, na avenida de mesmo nome que contorna o Outeiro. O obelisco, que mede 9 metros de altura, apoiando-se sobre uma base em escadaria, e está colocado no centro do belvedere, rodeado de balaústres, do lado do mar. Encimado por um jogo de lâmpadas, nas quatro faces, em cada uma das quais se veem inscrições em placas bronze maciço, alusivos ao 2 de Julho. Na frente estão as seguintes: Independência ou Morte – Joanna Angelica – Anna Nery – Maria Quitéria – Ilhéus aos heróis de 2 de Julho de 1823 – AVENIDA 2 DE JULHO, ADMINISTRAÇÃO DO DR. MARIO PESSOA. Do lado do Norte: – 2 de Julho de 1823 – Labatut – Lima e Silva – Cypriano Barata – Cochrane – Montezuma – Do lado do Sul: Porto Seguro – Funil – Cachoeira – Itaparica – Pirajá – Cabrito – Lado do mar – Ilhéus – Carneiro de Campos – Rodrigo Brandão – Borges de Barros – Lino Coutinho – 2 de Julho de 1927. (CORREIO DE ILHÉUS, 1927)
Atualmente o monumento encontra-se abandonado e não se vê iniciativa pública para a preservação do patrimônio histórico, assim como na cidade não se tem mais a tradição de se comemorar a vitória do dois do Julho, da nossa independência. Contudo, fica em nossas lembranças e consciência histórica, como ilheenses, como brasileiros e principalmente como baianos, que o Brasil nasceu na Bahia e se emancipou na Bahia; e é na Bahia que o Brasil se transformará!
Ave Bahia! Ave Povo Baiano! Ave Heróis e Heroínas Cotidianos! Ave Classe Trabalhadora!
Igor Campos Santos é Mestre em História, servidor público da Universidade Estadual de Santa Cruz, integrante da Juventude do PT-Ilhéus e do Coletivo Luta.
Adorei, muito importante ler e saber dessas coisas. Valeu Igor!