Elias Carlos Arakuã Ete
No território do nosso corpo
a terra do território.
De onde vimos,
para onde vamos.
As plantas,
como a água, como a terra,
como a planta de nossos pés dirá,
assim como o saber do nosso povo
e a inteligência dos nossos jovens
na busca do conhecimento
há de se revelar.
De onde comemos o aipim, o ganhamu,
o caranguejo, aratu e o araçá.
Também plantamos a mandioca,
colhemos a piaçaba,
semeamos o feijão.
Assim foi a jornada da vida,
dos cabocos do mato,
dos cabocos de Olivença,
como nos chamavam os patrícios,
caixeiros viajantes, os burgueses e os visitantes.
Desde os príncipes que nos visitavam
com suas princesas e comitivas, aos grandes navegantes.
Mercadores de nossas madeiras, de nossos pássaros,
de nossas flores e dos amores.
De nossas parentes levadas à força e enganadas
que sem saber deixavam seus amados e suas crias
com coração partido e a mente cheia paixão,
assim foram com nossos bravos guerreiros
que como seres exóticos para análises e experimentos
foram levados aos gritos e lamentos.
Nos porões das caravelas que
nas viagens não tinham comida,
nem água, nem velas
para clarear a vista do além mar
que a cada dia ficava mais distante dos rios, das matas virgens
a se lembrar da sua língua, de sua cultura
e sua história que ia e vinha.
E assim eles pensavam que a memória se perdia,
longe dos seus, quem por cá ficou.
A raiz do tronco
onde eles pensaram cortar, brotou.
Mas Tupã está aí em cada rio,
em cada córrego e
em cada árvore a germinar
a vida que nos alimentou.
E o além-mar não separou,
nem vai separar
assim disseram nossos anciões
e nossos ancestrais que de lá e por cá estão.
Como mistério do túnel da igreja
a praia dos milagres e o segredo
eles irão guardar para no momento oportuno
nos revelar, como o fizeram
até hoje nos ensinando a forma de resistência
para nosso território reconquistar.
Daí, não vão nos calar.
São crianças, jovens, adultos e anciões
num só coro dizendo:
Demarcação já!
De todo território indígena de Pindorama.
Elias Carlos Arakuã Ete Tupinambá, licenciado em História pela UESC, técnico em Contabilidade, professor indígena na escola CEITO (Colégio Estadual Indígena Tupinambá de Olivença) em Ilhéus BA.
Comments