Organização da JURA
No dia 17 de outubro de 2024 ocorreu a 8ª Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária Popular (JURA) na Universidade Estadual de Santa Cruz. Construída em parceria por diferentes instituições, organizações, movimentos sociais e a UESC, o evento teve como tema “Educação Popular: a luta dos povos pela vida, terra e territórios” e buscou a abertura de espaços de diálogo sobre as lutas populares do campo e da cidade a partir do intercâmbio entre os movimentos sociais e a comunidade universitária.
Mística Inicial.
A jornada reuniu cerca de 500 pessoas entre acampados e assentados da reforma agrária, indígenas, quilombolas, professores e estudantes e contou com a análise de conjuntura de Gilmar Mauro, membro da coordenação nacional do MST. O dirigente fez uma avaliação sobre a crise climática que vive o planeta e a sua relação com a lógica de produção capitalista: “a situação que estava prevista para daqui a 30, 50 anos está acontecendo agora, atualmente a morte por questões climáticas supera as mortes por guerra”, afirma.
Espaço da manhã: mesa de abertura, fala de Gilmar Mauro e debate.
Para Gilmar, “o capital ganha com as grandes catástrofes”, especialmente o capital financeiro, e “o principal problema para a luta pela reforma agrária é enfrentar esse setor, não há reforma agrária sem enfrentar o capital financeiro”. O militante do MST afirma que a financeirização da natureza é determinante para a manutenção do que chama “modelo insustentável”, que tem comprometido o acesso à terra e à água para muitas populações.
Abertura do espaço da tarde com ritual indígena.
As representações dos movimentos e organizações populares presentes aprofundaram a discussão da luta pela terra no sul da Bahia e apresentaram desafios urgentes para a recomposição dos movimentos sociais na região. Perpassou por todo o espaço o contexto de aumento do número de conflitos e a necessidade da unidade entre os movimentos para fortalecer as lutas no campo.
Mesa dos movimentos sociais.
A 8ª JURA-UESC, além de proporcionar o debate sobre os caminhos das organizações populares frente à questão agrária, visou contribuir na discussão sobre o papel da universidade diante do contexto de crise climática e escalada de violência no campo brasileiro. O Pró-reitor de extensão da UESC, Omar Costa, saudou o espaço afirmando que este “está pintando a universidade de povo”, endossado pela representante da pró-reitoria de ações afirmativas, Rosana Queiroz, que demonstrou felicidade por “ver a universidade lotada pelas pessoas que verdadeiramente constroem esse território.”
A agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e representante da organização do evento, Helenna Castro, falou da importância da jornada “num território historicamente precursor da luta pela terra e pelo território” e do “papel que a universidade deve cumprir para que a ciência sirva para construir um projeto popular.” Joelson Ferreira da Teia dos Povos chamou a atenção para o fato dos movimentos estarem estreitando laços com a comunidade acadêmica e defendeu que “a universidade não deve direcionar investimentos públicos para o benefício de setores privados.”
Mesa dos movimentos sociais.
Edna Porto, do MST, alertou que ainda há “muitas coisas a resolver, por isso a luta pela Reforma Agrária não pode parar.” O cacique Suçuarana Tupinambá defendeu a unidade “entre os que lutam pela terra. Há os indígenas, os sem terra, os quilombolas, os ciganos, a luta é uma só.”
Ficou firmado entre a universidade e as organizações populares o compromisso de seguir com a construção de espaços, incentivar e aprofundar a produção de ciência e os estudos em torno da questão agrária, além de apoiar as lutas dos povos do campo, indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais para garantia de seus direitos e conquista de suas demandas, como a reforma agrária popular e a demarcação dos territórios.
Leitura da Carta da 8ª JURA UESC.
Confira a Carta da 8ª Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária Popular - UESC:
“Para fazer frente ao caos e ao desmando político dos governantes que, ao liberarem altas somas em dinheiro para créditos agropecuários, incentivando com isso a expansão do agronegócio sobre as florestas, territórios indígenas e áreas de quilombos, com o objetivo de fortalecer a unidade e a luta entre os movimentos e pastorais sociais, entidades e a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), com o lema: Educação Popular: A Luta dos Povos pela Vida, Terra e Territórios, nos reunimos no dia 17 de outubro de 2024 para realizamos a “VIII Jornada Universitária pela Reforma Agrária Popular”.
A terra e toda a biodiversidade, subjugadas pela ganância de grupos adoradores do capital, clamam por ajuda. As alterações extremas do clima anunciam que é preciso proibir as práticas criminosas das devastações e empenhar-nos na preservação e recomposição das florestas para, assegurarmos a continuidade da existência das águas nas nascentes dos rios e lagos; garantirmos a contenção da desertificação que já atinge 15% do território nacional e, combatermos a eliminação desenfreadas das espécies.
O fogo propagado pelos ventos e grandes estiagens, acusa com suas línguas candentes, o agronegócio como principal propagador de crimes ecológicos e inimigo da biodiversidade; criminalmente deve ser responsabilizado, por transformar em cinzas o que antes era integração, harmonia e convivência entre as espécies, assassinar as lideranças indígenas, envenenar o meio ambiente e os alimentos. Da mesma forma, as enchentes ocasionadas pelas torrentes de águas vindas do espaço que, arrastando-se sobre as planícies e vales, totalmente despidos de cobertura florestal, anunciam que as crueldades do capital e dos capitalistas, já alcançou o infinito do espaço e, de lá, as consequências irradiam aquecimento universal incontrolável.
Considerando que essas forças destruidoras da natureza, em busca de produzirem cada vez mais mercadorias e acumularem o capital, não apresentarão soluções para os desiquilíbrios climáticos, a fome e a violência sobre a terra, apresentamos a reforma agrária, a demarcação dos territórios dos povos originários, o reconhecimento das áreas de quilombos e a preservação das reservas ambientas e minerais, como reais alternativas capazes de preservarem a biodiversidade sobre a face da terra.
Para atacarmos esses árduos desafios, conclamamos para unirmos as forças e erguermos as trincheiras de solidariedade em torno da defesa do uso humanizado da terra, destinando-a, prioritariamente para a produção de alimentos saudáveis e orgânicos livres de qualquer interferência comercial e, irmanados com todas as espécies, reestabelecermos a harmonia e o equilíbrio nas relações ecológicas entre todos os povos e organismos vivos.
Convidamos a empenharmos esforços também, para combatermos as guerras dos países imperialistas contra os pobres do mundo e, investirmos todas as nossas energias, físicas e mentais na educação das novas gerações, para que sejam respeitosas, amorosas e dignas de viverem neste mundo.
Junte-se a nós, venha fazer parte dessa luta e desse outro projeto de sociedade”
Texto: Mateus Britto (Centro de Estudos e Ação Social - CEAS e Movimento pela Soberania Popular na Mineração- MAM).
Fotos: Helenna Castro (Comissão Pastoral da Terra - CPT), Larissa Araújo (UESC) e Paulo Daniel (Consulta Popular e Assembleia Popular).
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