Vídeo produzido pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) aborda o processo de luta pela demarcação das terras tradicionais do povo Pataxó e os ataques sofridos em prol de interesses privados
Ingrid Macedo
Com a demarcação das Terras Indígenas (T.I.s) Barra Velha do Monte Pascoal e Comexatibá paralisadas desde 2008 e 2015, respectivamente, e pressionados pelo agronegócio e pela especulação imobiliária, o povo Pataxó decidiu iniciar a autodemarcação do seus territórios no extremo sul da Bahia. Atualmente são cerca de 20 áreas de retomada feitas em uma estratégia política que visa a defesa, recuperação e proteção do território originário, ameaçado pelo crescimento urbano desordenado e a devastação da vegetação primária.
A reportagem de Maiara Dourado e Tiago Miotto, da Assessoria de Comunicação do Cimi, apresenta imagens colhidas no território Pataxó e depoimentos de diferentes lideranças locais, ecoando vozes e narrativas historicamente silenciadas e invisibilizadas.
“Desde que perdemos nossas terras, estamos igual uma folha seca tocada pelo vento. A gente não tem sossego”
reflete Zé Fragoso, de nome indígena Jitaí Pataxó, cacique da aldeia Tibá.
No último ano, a violência nos territórios tradicionais escalou de maneira exponencial, tornando a vida nestas áreas insegura e permeada pelo medo. Além de serem alvos de ameaças e intimidação, as lideranças tem sido criminalizadas e negadas de sua identidade étnica em uma campanha difamatória endossada por veículos de comunicação locais e nacionais. Por exemplo, o vídeo traz um trecho do programa Café Rural, da Rádio Itamaraju (99.7 FM), em que um dos interlocutores faz um discurso de ódio com o potencial de incitar ataques contra os indígenas.
A juventude indígena também é alvo das violências cometidas pelas milícias rurais e, em poucos meses, três jovens nativos foram assassinados em ataques à retomadas nas T.I.s Comexatibá e Barra Velha do Monte Pascoal: Gustavo Silva da Conceição, de 14 anos, assassinado em setembro de 2022, e Samuel Cristiano do Amor Divino e Nauí Brito de Jesus, de 25 e 16 anos, assassinados em janeiro deste ano.
Desde então, 3 policiais militares foram presos por suspeita de envolvimento na morte do adolescente Gustavo e 1 policial militar foi preso por suspeita de participar das mortes de Nawy e Samuel. As prisões evidenciam as denúncias feitas pela população nativa sobre a existência histórica de milícias rurais na área trabalhando a favor de empresários e grandes proprietários de terra. O povo Pataxó cobra do governo federal a proteção de suas comunidades e o avanço na demarcação de suas terras.
“Sem terra, não tem saúde, não tem educação, não tem vida [...] Queremos andar em nosso território livre”.
resume Ãgohó Pataxó, liderança da T.I. Comexatibá.
O vídeo está disponível no canal do Cimi no Youtube:
Demarcação Já!
Ingrid Macedo, de nome indígena Juacema, pertence ao povo Pataxó, é artesã, comunicadora popular e integra o coletivo Brasil Vermelho.
Comments