Mateus Britto
O conto Vai ou não vai narra a história do enfrentamento de um grupo de camponeses sem-terra ao latifúndio e seu projeto de miséria. É antes de mais nada uma história sobre organização popular e como esta vai salvar o mundo. O texto aborda também as mais variadas contradições existentes entre o modo de vida camponês e o citadino, as nuances da luta entre as classes que muitas vezes coloca os trabalhadores para pelearem entre si. No mais, é um texto livremente baseado em uma história real.
Boa leitura!
"Quando setenta pessoas andam juntas numa estrada de chão da mata de cipó só uma coisa surge à mente. Antes devo me permitir generalizar o pensamento de setenta seres aparentemente diferentes, pois nessa circunstância estes se transformam num único organismo, mais organizado que o apiário e mais disciplinado que o das formigas. A noção em questão é a do poder. A princípio não é o poder da autoridade, embora este seja intrínseco, é o poder enquanto a capacidade de realizar algo, o que neste caso é tudo. É poder retirar as cercas que lhes impedem a passagem, poder transformar o pasto em alimento e poder até ressuscitar um rio, com algum esforço. É poder também retirar o vaqueiro de sua casa e oferecer-lhe outra, a sua se transformaria no berçário das sementes que germinariam por todas aquelas terras.
O vaqueiro estava selando a mula quando desceu aquela multidão para a sua porta.
– Vai ou não vai? – um grita a palavra de ordem.
Curiosamente ele não detectou raiva em nenhum rosto, apenas uma grande euforia, sobretudo entre as crianças.
– Vai! – responde a multidão.
Se pergunta se é mesmo possível que esse tanto de gente possa estar errada.
– Ocupa ou não ocupa? – grita a companheira de boné vermelho.
O vaqueiro ordena a mulher que arrume as trouxas.
– Ocupa!"
Leia o conto completo aqui (também está disponível para download):
Veja também a apresentação do autor na Mostra de Literatura do Festival Universitário Baiano (FUBA) 2021, organizado pela União dos Estudantes da Bahia (UEB):
Mateus Britto é graduado em Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), militante da Consulta Popular – Núcleo Revolta no Engenho de Santana e integrante do Coletivo Brasil Vermelho.
Muito bom. Parabéns!