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A PONTE

Elias Carlos Arakuã Ete


A ponte e seus efeitos colaterais.

As pontes de lá e as pontes de cá

As pontes que erguem e seguem

E fazem ruir

Da ponte safena à ponte do pontal

Da ponte da vida

Para a ponte mortal

Do Cururupe à Olivença


Tantas histórias a contar, acharam que tinham ganho a ponte e um altar.

Pois é, ganhamos nós um altar Tupinambá que lá no Cururupe está.

Onde se encontram as memórias e a história de Marcelino e de Amotara.

Mas voltando à ponte das duas vias, das mãos da morte estaiada e da vida espalhada que, para muitos, obra monumental que levará Ilhéus ao apogeu da civilização.

Para nós encantamentos e decepção.

Onde veremos nosso território, nosso povo sendo enganado, voltando à era dos esbulhos com os brilhos das luzes da dita estaiada ponte.

Ora me conte?

Quem ganhou? Quanto? E onde.

Até o fi do coronel foi homenageado, queria achar engraçado.

Mas o negócio é sério, e o capital da capital não perde tempo.

Segue na saga da destruição étnica.

Buscando toda técnica

No avanço ao nosso território com os desmatamentos e seus arranhas céus

Com suas coberturas de frente para o nosso céu mar.


Buscando o céu azul

Donde outrora pescávamos arraias, corre-costas, aratubaia, barbudos.

Nas nossas lindas praias do Sul

Do nosso pontal encantado

Que a tal ponte estaiada fez adoecer

Fazendo desaparecer o colégio Padre Luiz Palmeiras e a igrejinha de São Francisco

Assim como a comunidade dos cabocos pescadores perecer.


Mas a história tá aí e a memória também.

Quando se corta um tronco, uma árvore, a raiz está aí nas profundezas da mãe-terra

E as sementes

No coração e na mente

Daqueles que vem.

Assim como as ondas do mar, que, quando a maré seca

Leva os maus olhados, todo desassossego

E quando a maré enche com a lua cheia

Traz a beleza e a certeza das conquistas

Que vão além das descritas

Nas vitórias das pontes da vida.



Elias Carlos Arakuã Ete, licenciado em História pela UESC, técnico em Contabilidade, professor indígena na escola CEITO (Colégio Estadual Indígena Tupinambá de Olivença). Um dos fundadores do Sindicato dos Contabilistas de Ilhéus e da Associação Comerciantes da Zona Sul.


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