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NO TERRITÓRIO DO NOSSO CORPO


Elias Carlos Arakuã Ete


Foto: Divulgação/APIB. Disponível em: https://apiboficial.org/2020/12/17/justica-federal-da-bahia-decide-por-mais-uma-reintegracao-de-posse-desta-vez-na-ti-tupinamba-de-olivenca-e-afronta-suprema-corte/

No território do nosso corpo

a terra do território.

De onde vimos,

para onde vamos.

As plantas,

como a água, como a terra,

como a planta de nossos pés dirá,

assim como o saber do nosso povo

e a inteligência dos nossos jovens

na busca do conhecimento

há de se revelar.

De onde comemos o aipim, o ganhamu,

o caranguejo, aratu e o araçá.

Também plantamos a mandioca,

colhemos a piaçaba,

semeamos o feijão.

Assim foi a jornada da vida,

dos cabocos do mato,

dos cabocos de Olivença,

como nos chamavam os patrícios,

caixeiros viajantes, os burgueses e os visitantes.

Desde os príncipes que nos visitavam

com suas princesas e comitivas, aos grandes navegantes.

Mercadores de nossas madeiras, de nossos pássaros,

de nossas flores e dos amores.

De nossas parentes levadas à força e enganadas

que sem saber deixavam seus amados e suas crias

com coração partido e a mente cheia paixão,

assim foram com nossos bravos guerreiros

que como seres exóticos para análises e experimentos

foram levados aos gritos e lamentos.

Nos porões das caravelas que

nas viagens não tinham comida,

nem água, nem velas

para clarear a vista do além mar

que a cada dia ficava mais distante dos rios, das matas virgens

a se lembrar da sua língua, de sua cultura

e sua história que ia e vinha.

E assim eles pensavam que a memória se perdia,

longe dos seus, quem por cá ficou.

A raiz do tronco

onde eles pensaram cortar, brotou.

Mas Tupã está aí em cada rio,

em cada córrego e

em cada árvore a germinar

a vida que nos alimentou.

E o além-mar não separou,

nem vai separar

assim disseram nossos anciões

e nossos ancestrais que de lá e por cá estão.

Como mistério do túnel da igreja

a praia dos milagres e o segredo

eles irão guardar para no momento oportuno

nos revelar, como o fizeram

até hoje nos ensinando a forma de resistência

para nosso território reconquistar.

Daí, não vão nos calar.

São crianças, jovens, adultos e anciões

num só coro dizendo:

Demarcação já!

De todo território indígena de Pindorama.



Elias Carlos Arakuã Ete Tupinambá, licenciado em História pela UESC, técnico em Contabilidade, professor indígena na escola CEITO (Colégio Estadual Indígena Tupinambá de Olivença) em Ilhéus BA.

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