Helenna Castro
Imagine que você participou de um processo seletivo para realizar uma atividade extremamente relevante para seu país, o Censo demográfico, utilizado para obter informações sobre diversos aspectos das condições de vida da população. Na sua ingenuidade, você crê que receberá um pagamento equivalente à importância do seu trabalho e ao seu tempo trabalhado. Ledo engano.
Além do pagamento irrisório por entrevista realizada, foi fixado um prazo de até 17 DIAS para recebimento dos valores. Não existe um piso salarial, o recenseador recebe quando fecha o setor que lhe foi designado (após esperar o prazo citado que muitas vezes nem é respeitado), o que pode durar mais de um mês.
Não fosse suficiente não saber quando nem quanto irá receber, o próprio fechamento do setor é dificultado pelo IBGE, já que apenas alguns dos recenseadores receberam uma “ajuda de custo” para o transporte, devendo os demais se responsabilizarem por chegar ao local de trabalho ‘se virando’.
Não é incomum também que um recenseador precise trabalhar à noite ou aos finais de semana já que após a primeira visita, é necessário que se retorne ao local mais 4 vezes na tentativa de encontrar morador. Se você não encontrar gente na casa em nenhuma dessas 5 VISITAS, recebe apenas alguns centavos por aquele domicílio já que você FALHOU em realizar a entrevista. Sem contar as casas em que você encontra o morador e ele te trata mal, te constrange e afinal não responde.
Segundo o IBGE, “o Censo Demográfico é a mais complexa operação estatística realizada por um país, sobretudo quando ele tem dimensões continentais como o Brasil, com 8.515.692,27 km², distribuídos em um território heterogêneo, muitas vezes de difícil acesso, composto por 27 Unidades da Federação e 5.565 municípios e com uma população de 190.755.799 habitantes.” Concordo com o IBGE quando afirma que a operação é complexa. Especialmente complexa quando você não tem nenhum direito trabalhista garantido.
O resultado é que você trabalha, demora a receber e quando pega o contracheque, senta e chora, como foi o meu caso.
Em diversos locais do Brasil, os recenseadores organizaram manifestações no mês de setembro contra as precárias condições de trabalho e o salário baixíssimo (menos de um salário mínimo por setor na maioria dos casos). O grupo que se intitula União dos Recenseadores reivindica:
Calculadora do IBGE para cada região para dar transparência quanto vai ganhar;
Aumento da taxa de 50% para 80% como adiantamento do setor até o final do mês;
Correção das taxas que estão defasadas;
Aumento para 20% a taxa máxima de recusas;
Notificação extrajudicial para as pessoas que não queriam responder, sem a obrigação do recenseador voltar tantas vezes;
Pagamento de todas os débitos do IBGE atrasados;
Pagamento do transporte antecipado;
Canal de atendimento para tirar dúvidas para diminuir a desinformação dos ACS e ACM.
NENHUMA DAS REINVINDICAÇÕES FOI ATENDIDA ATÉ O MOMENTO.
Helenna Castro é Comunicadora Popular, integrante do Coletivo Brasil Vermelho e foi recenseadora na cidade de Ilhéus-BA (matrícula 293220164811) durante o Censo 2022.
Em Ilhéus já não tem emprego...então o CENSO foi uma oportunidade que encontrei a decepção foi grande. A falta de divulgação e valorização por parte do IBGE é enorme. Todos os dias tem trabalhadores desistindo...pedimos ajuda e nenhuma autoridade nos atende!