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O CENSO 2022 E A SUPEREXPLORAÇÃO DO TRABALHO

Atualizado: 22 de fev. de 2023

Helenna Castro


Imagine que você participou de um processo seletivo para realizar uma atividade extremamente relevante para seu país, o Censo demográfico, utilizado para obter informações sobre diversos aspectos das condições de vida da população. Na sua ingenuidade, você crê que receberá um pagamento equivalente à importância do seu trabalho e ao seu tempo trabalhado. Ledo engano.

Além do pagamento irrisório por entrevista realizada, foi fixado um prazo de até 17 DIAS para recebimento dos valores. Não existe um piso salarial, o recenseador recebe quando fecha o setor que lhe foi designado (após esperar o prazo citado que muitas vezes nem é respeitado), o que pode durar mais de um mês.

Não fosse suficiente não saber quando nem quanto irá receber, o próprio fechamento do setor é dificultado pelo IBGE, já que apenas alguns dos recenseadores receberam uma “ajuda de custo” para o transporte, devendo os demais se responsabilizarem por chegar ao local de trabalho ‘se virando’.

Não é incomum também que um recenseador precise trabalhar à noite ou aos finais de semana já que após a primeira visita, é necessário que se retorne ao local mais 4 vezes na tentativa de encontrar morador. Se você não encontrar gente na casa em nenhuma dessas 5 VISITAS, recebe apenas alguns centavos por aquele domicílio já que você FALHOU em realizar a entrevista. Sem contar as casas em que você encontra o morador e ele te trata mal, te constrange e afinal não responde.

Segundo o IBGE, o Censo Demográfico é a mais complexa operação estatística realizada por um país, sobretudo quando ele tem dimensões continentais como o Brasil, com 8.515.692,27 km², distribuídos em um território heterogêneo, muitas vezes de difícil acesso, composto por 27 Unidades da Federação e 5.565 municípios e com uma população de 190.755.799 habitantes.” Concordo com o IBGE quando afirma que a operação é complexa. Especialmente complexa quando você não tem nenhum direito trabalhista garantido.

O resultado é que você trabalha, demora a receber e quando pega o contracheque, senta e chora, como foi o meu caso.
Reunião entre os recenseadores de Ilhéus-BA e os supervisores no dia da paralisação nacional (01/09). Foto: Reprodução Blog Ilhéus 24h.

Em diversos locais do Brasil, os recenseadores organizaram manifestações no mês de setembro contra as precárias condições de trabalho e o salário baixíssimo (menos de um salário mínimo por setor na maioria dos casos). O grupo que se intitula União dos Recenseadores reivindica:

  • Calculadora do IBGE para cada região para dar transparência quanto vai ganhar;

  • Aumento da taxa de 50% para 80% como adiantamento do setor até o final do mês;

  • Correção das taxas que estão defasadas;

  • Aumento para 20% a taxa máxima de recusas;

  • Notificação extrajudicial para as pessoas que não queriam responder, sem a obrigação do recenseador voltar tantas vezes;

  • Pagamento de todas os débitos do IBGE atrasados;

  • Pagamento do transporte antecipado;

  • Canal de atendimento para tirar dúvidas para diminuir a desinformação dos ACS e ACM.

Foto: Reprodução UOL.

NENHUMA DAS REINVINDICAÇÕES FOI ATENDIDA ATÉ O MOMENTO.














Helenna Castro é Comunicadora Popular, integrante do Coletivo Brasil Vermelho e foi recenseadora na cidade de Ilhéus-BA (matrícula 293220164811) durante o Censo 2022.

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