Elias Carlos Arakuã Ete

Pois bem, para alguns,
O grafismo vem da idade da pedra.
Mas homem, isto é história, não me diga.
Já que é de lá que a gente vem
Desde nossos ancestrais.
Andávamos à vontade, nos vestiram,
Falávamos, nos calaram,
Nos fazendo escrever o que eles queriam.
Quando cada novidade a gente já fazia:
Falava, desenhava e escrevia.
Cada desenho, cada traço
Com seus significados
Isto é, como nos convém.
Sendo assim, falou Orléia:
Você já viu grafismo do Atan?
Que, como manto sagrado,
Cobre o corpo e a alma, como um xamã.
Que por detrás de cada risco, cada traço,
Uma mensagem ele traz de Tupã,
Assim como dos espíritos,
Da mata e os encantados,
Que nos são revelados
Para todas situações.
Seja para donzela ou mulher compromissada,
Seja para o compromissado ou solteiro
E também para o guerreiro,
Além do pajé.
Sempre tivemos a fé,
Nos banhos, nas benzedeiras
E nos chás.
Também nos sagrados: como o sol,
A lua, as chuvas e as ondas mar.
Inclusive os traços de guerra
Que não vou revelar,
Pois, desde o silêncio
Somos geniosos,
Mas temos bom coração.
Assim o diz nosso Poranci sagrado.
Daí, o segredo de cada risco, cada traço,
Cada desenho para os brancos.
Mas, para nós que somos indígenas Tupinambá de Olivença,
O preto do genipapo
Temos orgulho de usar,
Contando com o vermelho do urucum,
Nossos cachimbos,
E também nossa argila.
Elias Carlos Arakuã Ete Tupinambá, licenciado em História pela UESC, técnico em Contabilidade, professor indígena na escola CEITO (Colégio Estadual Indígena Tupinambá de Olivença) em Ilhéus BA.