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POESIA | GRAFISMO

Atualizado: 23 de out. de 2023

Elias Carlos Arakuã Ete


XXIII Caminhada em memória dos mártires do Massacre no Rio Cururupe, 2023. Foto: Helenna Castro- CPT SSO

Pois bem, para alguns,

O grafismo vem da idade da pedra.

Mas homem, isto é história, não me diga.

Já que é de lá que a gente vem

Desde nossos ancestrais.

Andávamos à vontade, nos vestiram,

Falávamos, nos calaram,

Nos fazendo escrever o que eles queriam.

Quando cada novidade a gente já fazia:

Falava, desenhava e escrevia.

Cada desenho, cada traço

Com seus significados

Isto é, como nos convém.

Sendo assim, falou Orléia:

Você já viu grafismo do Atan?

Que, como manto sagrado,

Cobre o corpo e a alma, como um xamã.

Que por detrás de cada risco, cada traço,

Uma mensagem ele traz de Tupã,

Assim como dos espíritos,

Da mata e os encantados,

Que nos são revelados

Para todas situações.

Seja para donzela ou mulher compromissada,

Seja para o compromissado ou solteiro

E também para o guerreiro,

Além do pajé.

Sempre tivemos a fé,

Nos banhos, nas benzedeiras

E nos chás.

Também nos sagrados: como o sol,

A lua, as chuvas e as ondas mar.

Inclusive os traços de guerra

Que não vou revelar,

Pois, desde o silêncio

Somos geniosos,

Mas temos bom coração.

Assim o diz nosso Poranci sagrado.

Daí, o segredo de cada risco, cada traço,

Cada desenho para os brancos.

Mas, para nós que somos indígenas Tupinambá de Olivença,

O preto do genipapo

Temos orgulho de usar,

Contando com o vermelho do urucum,

Nossos cachimbos,

E também nossa argila.



Elias Carlos Arakuã Ete Tupinambá, licenciado em História pela UESC, técnico em Contabilidade, professor indígena na escola CEITO (Colégio Estadual Indígena Tupinambá de Olivença) em Ilhéus BA.

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