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PORQUE EU VOTO EM LULA EM 2022

Atualizado: 2 de out. de 2022

Erbson Cardoso


Nesse momento chove. O cheiro da terra encharcando-se de vida, depois de dias ensolarados, secos em que rachou e virou poeira fininha... Sabe, dessas que o vento gosta de brincar com o Saci, fazendo redemoinhos? A vida se esvaiu numa velocidade estonteante e a morte armou sua tenda entre nós; tomou a forma de um homem que cantou como sereia, seduziu multidões e os arrastou para seus braços, para o seu leito de morte... O som do gotejar, o cheiro do sexo entre o Céu e a Terra, que logo estará prenha do porvir, evoca lembranças e gemidos de dor e desespero do que foi, do que foram esses 4 anos, quando Aquele - que não deve ser pronunciado o nome - porque não é digno de Ser, surgiu como um cavaleiro do Apocalipse, montado no Dragão de Fake News, insuflou o terror e chegou ao poder: o Pai da Mentira, que exigiu sacrifício de milhões no altar da “pátria” roubada. Milhões de histórias, de sorrisos, sonhos e abraços se foram, em meio a gargalhadas e passeios de jet-skis; Deus foi ferido e sangrou conosco. Foram dias difíceis. Sobreviver passou a ser uma luta desesperada quando a fome bateu à porta e se pelas frestas e tomou nossos lares.

Homem é agredido por bolsonaristas em ato pró-governo. Foto: Sérgio Silva/Ponte Jornalismo

Foram tempos de violências, com seu exército zumbizado e ensandecido marchando com as tochas acesas da “moral e dos bons costumes”, os “cidadãos de bem” acenderam as fogueiras da intolerância e bradaram pela solução final: espancamentos à luz do dia do migrante que sonhou com um lar, do moço que foi comprar um remédio e acabou numa câmara de gás... são tantos e tantos, meu Deus... “Dizei-me vós, Senhor Deus, se é loucura, se é verdade, tanto horror perante os céus!!” Como está difícil respirar. Sinto mãos asquerosas apertarem o meu pescoço... Por que ainda respiro e tantos não? O que fiz de melhor, para a morte, a fome não terem me alcançado? Nada. Puro acaso. Mas a Dor, ela me alcançou e me tomou, e come um pedaço do meu ser todos os dias. Não sei o que sobrou.

O caos reinou nesses anos, a boiada passou, direitos foram extintos, o país esfacelado com o som ensurdecedor dos motosserras e florestas a queimar, aos grunhidos das entranhas dos que têm fome ao silêncio ensurdecedor do olhar opaco e mãos estendidas em súplica, enquanto outras mãos fazem arminhas. Se algumas gargantas estão ressecadas e já não emitem gritos de dor, ouvem-se aos berros vozes, blasfêmias em meio ao incenso dos altares, dizendo amém ao horror em meio a gritos de mito e hinos de louvor e glória; uma multidão de desalentados caminham numa procissão sem andor, mas com DOR; meu Senhor, quanta dor há nesses passos, nesses caminhos de via crucis...

Desalento é uma palavra triste: estado de quem se mostra sem alento; desânimo, abatimento, esmorecimento. Estão um passo após a (DES) esperança, por que e para que caminhar? Tudo se foi... Estão nus... Invisíveis entre nós, como fantasmas, que nos assustam, quando de repente assumem a forma esquelética diante de nossos olhos estupefatos. Quem são eles, de onde saiu essa gente horrorosa, onde está o governo que não toma providências e limpa a sujeira das calçadas?

Somos hoje uma nação de desalentados e de desalentadores. É isso. Nós e eles. Não há conciliação possível, é indecente pensar assim. Somos uma nação envergonhada. Todo e qualquer projeto de civilização foi esmigalhado ao longo desses 4 anos; e hoje, o mundo observa o mapa e onde outrora fora o alegre Brasil, exclama: que país fascistóide é esse? Não somos mais Pátria amada; somos agora pátria armada? Não, eles estão armados, e armas servem a um único propósito: nos aniquilar. E hoje, olhamos desconfiados, não sabemos se quem está do nosso lado vai puxar o gatilho. Que loucura essa febre trouxe, essa milícia dos “homens bons”. Eles jamais se curarão. A arma é o pênis ereto pronto a nos estuprar. E eles estiveram aqui o tempo todo; estão e estarão entre nós, como hienas prontas para atacar quando apodrecermos. Não podemos dar chance ao azar. As palavras do mestre devem ser um mantra recitado todas as manhãs: “Dentre vós, não deve ser assim”.

E nesses dias que eles marcham histericamente atrás do imbrochável, que se excita e se compraz com a dor da tortura, dessa morte que chega um pouco por dia, dos sonhos transformados em pó e sangue, o inominável geme, revira os olhos pestilentos e ejacula morte, esperma estéril, enquanto o povo se contorce e clama por justiça como Jó, coberto de feridas, mas cheio de fé.

Estou no ponto de ônibus, doente, passos trôpegos, choro à toa, não tenho direito de ser feliz em meio a esse quadro de horrores. Sou uma sombra do que fui; o preço foi alto. Faltam braços, pernas. Já não consigo segurar bandeira, o corpo dói, a alma dói... Aí, de repente, vejo um bebezinho, que me olha como se me conhecesse e sorri. Ah pequenino ser encantado, que me estende os braços, quando eu estava naufragando, você tem o cheiro do Sagrado (quando não está com a fralda cheia) e o Pai sorri através de seus lábios... O som do sorriso de Deus... Ah diacho, como desistir, como abrir mão dos que virão depois de nós? O véu do luto foi erguido e agora vejo os sinais do Tempo, Senhor de todas as coisas, É TEMPO DE ESPERANÇAR, é impossível conter a marcha da história: o novo sempre vem. E vem trazendo as cores rubras do amanhecer, como promessa de pão quentinho, família reunida, sorrisos, e alguma travessura das crianças. Vem com o vermelho da rEXISTÊNCIA, do povo que não se rendeu, sim é isso que a bandeira vermelha representa quando foi hasteada a primeira vez nas barricadas francesa: aqui, tem mulheres, homens e crianças que lutarão até o fim, seja ele qual for!

Lula no 1º de Maio em São Paulo, 2022. Foto: Roberto Parizotti.

É assim que tem que ser. É esse o projeto do Reino: vida plena e em abundância para todos! Florestas de pé-guardiãs do passado, garantidoras do futuro. E aos pés da Grande Árvore do Encontro, irmanados todos os companheiros de luta, celebraremos a VITÓRIA. Para aqueles que nos causaram dor, um pedido: nem perdão, nem esquecimento. A História cobra um preço e os mortos clamam por justiça. Lugar de fascista é no esgoto da História.

E o novo se apresenta a nós como um velho Barbudo, comandante maior de uma revolução amada, não armada. É por isso que desde os meus 17 anos até agora aos 50, ainda me emociono com o poder catalisador de sonhos e esperanças que ele tem. Dia 02, vou depositar nas urnas minha oferta e minha promessa: conte comigo presidente Lula! Vamos reconstruir todos juntos essa Nação. Governe pelo povo e com o povo mobilizado; e juntos vamos trazer o Brasil de volta ao que era, se isso for possível, e eu creio que SIM. Eu acredito mais uma vez: a esperança vencerá o medo, seremos felizes de novo. Erbson Cardoso é diretor da rede estadual de educação e ativista social.

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